segunda-feira, 4 de abril de 2011

Estações do Vale do Paraíba - Cachoeira Paulista


Das estações ferroviárias do Vale do Paraíba, sem dúvida a mais suntuosa, sempre foi a de Cachoeira Paulista. No entanto hoje (mar-2011) seu estado de conservação é desesperador! Um morador, que tem sua residência na mesma rua da estação, descreveu-a como a "cracolandia de Cachoeira". Desnecessário explicar mais.....

Esta estação foi construída na margem direita do Rio Paraiba, antigo Rio dos Surubis na época das entradas e bandeiras, que tinham no rio o caminho natural para atingir as Minas Gerais, partindo da capitania de S. Vicente.



A imponência desta estação vem do fato dela ter sido construida para ser o ponto de encontro da Estrada de ferro do Imperador vinda da capital do Império, com a estrada de ferro do Norte, futura Central do Brasil, que era obra de um "consorcio" de fazendeiros paulistas, proveniente de S. Paulo, da estação do Norte.


Na realidade, o encontro das duas ferrovias somente ocorreria em 1890, com o término da construção da ponte de ferro sobre o Rio Paraiba. Ocorria que a ferrovia do Imperador vinha em bitola larga e chegava a margem esquerda, em um local chamado "Comuna", e no porto de Mão Fria. A ferrovia do Norte, construída pelos fazendeiros paulistas, chegava em bitola métrica (devido a benefícios fiscais) nesta estação, mas na margem direita. Então primeiro era necessário o transbordo através de balsas (balsas dos irmãos Porto), de uma ferrovia a outra, e depois da ponte pronta, ainda era necessária a baldeação devido a diferença de bitola. A bitola somente seria unificada em 1908.


Em foto anterior a 1930, dos arquivos do Sr. Percy, vemos a estação, que com toda sua grandeza, é difícil de ser enquadrada em uma foto só, e a ponte que uniu as duas margens do Paraiba. Construída em ferro e alvenaria, foi bombardeada pela ocasião da revolução de 1932, para deter o avanço das forças federais contra as tropas paulistas. Tenha-se em conta que as mais sangrentas batalhas de confronto entre Paulistas e governistas, ocorreram nesta região do Vale do Paraiba. Aliás, Silveiras, Cruzeiro, Cunha, e muitas outras cidades do Vale tem capítulos riquíssimos sobre os confrotos de 32.

A Ponte, dinamitada pelos próprios paulistas, numa tentativa de conter o avanço das tropas federais.


O "Torreão Central", chegou a sediar a sede da Intendência, que seria a precursora da prefeitura. A prefeitura de Cachoeira só teve sede propria a partir de 1920. Os intendentes eram normalmente fazendeiros da região, raramente com algum preparo para coordenar os trabalhos relacionados ao cargo, e eram nomeados pelos governadores ou interventores do Estado de S. Paulo. Sua gestão raramente alcançava a duração de um ano. Trocado o interventor do estado, trocavam-se os intendentes das vilas.

A estação contava com suas plataformas de mais de 200 metros, que acomodavam com folga composições inteiras. Havia o bar, com portas de acesso para as duas plataformas e com ampla capacidade para atender todos os viajantes.




De cada lado do Torreão, haviam depósitos com capacidade para estocar milhares de sacos de café, o principal produto da época, e que movia a economia do Vale do Paraiba.

Testemunho do vendedor de jornais da época que reproduzo: lembro-me da estação nos idos de 1930 / 40, quando vendia jornais e revistas . Tinha que retirar os pacotes dos carros de correio nos trens diurnos e noturnos. Os trens circulavam na seguinte proporção: 2 expressos, 1 expressinho, 2 noturnos, 2 leitos e 2 especiais.

Com todo o movimento que a estação propiciava, as imediações do prédio foram formando um núcleo comercial e determinando o ponto central da cidade. A estação foi a responsável por transferir a cidade da margem esquerda para a direita.

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